O estoquista João Augusto Borges, de 21 anos, confessou que esganou e ateou fogo no corpo de sua mulher, Vanessa Eugênia Medeiros, de 23 anos, e da própria filha, Sophie Eugênia Borges, de apenas 10 meses.
Ao relatar as mortes, o homem teria contado detalhes de como praticou o crime, inclusive a reação da pequena, o que teria causado perplexidade até mesmo entre policiais experientes.
Na noite de ontem, os corpos de Vanessa e Sophie foram encontrados carbonizados em um terreno no Bairro Indubrasil, em Campo Grande. Apesar do estado em que estavam, foi possível perceber que ambas tinham fraturas no pescoço.
Segundo o delegado Rodolfo Daltro, titular da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que investigou o caso, durante o colhimento do depoimento do suspeito, os policiais precisaram paralisar a oitiva, uma vez que alguns detalhes incomodaram até mesmo servidores com mais de uma década na área da segurança pública.
“Eu tenho 11 anos anos de polícia, e havia um policial ali na sala com 22 anos. Tivemos que parar em certo momento porque eu, como pai, e eles também, [ficamos impactados] com tamanha brutalidade e frieza ao [criminoso] relatar como matou, até com detalhes grotescos de como fez a esganadura da criança, da reação da criança. São situações abjetas, e isso – apesar de certo período de desempenho da função policial – nos causou perplexidade e até mal-estar. Tivemos que parar o interrogatório”, contou Daltro.
De acordo com a polícia, durante o depoimento de João Augusto, ele não teria demonstrado arrependimento pelas mortes da mulher e da criança.
“Ele confessou prontamente, sem o menor remorso, uma pessoa extremamente fria. Eu fiz questão de frisar com ele durante o interrogatório se ele estava arrependido. ‘Não estou arrependido, já foi feito, estou bem’, disse. E esse caso nos chocou, por se tratar de um pai matando uma criança”, declarou o delegado em entrevista na tarde de ontem.
Segundo relato do autor, ele estava planejando o crime há dois meses. Ainda, uma possível separação seria o principal motivo para o duplo feminicídio.
“Eles [Vanessa e João Augusto] estavam juntos há cerca de dois anos, e a criança nasceu há 10 meses. Ele me relatou que começou, a cerca de 8 meses atrás, a ter problemas [conjugais], isso após o nascimento da filha. Ele se via muito atarefado com o cuidado com a criança, e também as despesas estavam muito altas. Então, ele incutiu a ideia de matar as duas”, complementou Daltro.
Ainda de acordo com a polícia, após iniciar o planejamento do crime, o autor confesso teria perguntado a um colega de trabalho como poderia fazer um nó para amarrar os pés e as mãos da esposa e da filha após matá-las.
“Nós encontramos uma testemunha que nos relatou que, há cerca de dois meses, ele disse ‘eu vou matar a minha mulher e a minha filha’ e pediu para essa pessoa se sabia como usar os nós para prender os pés e as mãos delas, porque ele pretendia matar as duas. Já naquela época ele pretendia queimar os corpos”, relatou o delegado.
“Ele constantemente relatava essa questão de matar a filha. Só que, segundo essa testemunha, era tão absurdo o que ele falava que essa testemunha não botava fé de tão cruel. Ele chegou a perguntar ‘e a sua criança, você vai matar a sua própria filha?’. ‘Vou sim, e o melhor de tudo é não ter que pagar a pensão’, teria dito João Augusto”, adicionou Daltro.
A testemunha mostrou, inclusive, uma mensagem enviada pelo suspeito no dia do crime, dizendo que se livraria dos corpos naquele mesmo dia, porque “eles vão começar a feder”.
DIA DO CRIME
Conforme contou o delegado, no dia do crime, João Augusto foi trabalhar normalmente pela manhã, mesmo já com a intenção de ass a sua família. Durante a tarde, em seu horário de almoço, o rapaz foi para a casa, momento em que cometeu o duplo feminicídio.
“Com o pretexto de conversar sobre o relacionamento, ele a chamou [Vanessa] até o quarto, e ela deixou a criança na cama, com brinquedos. Ele, que é lutador de artes marciais, aplicou um mata-leão nela, imobilizou os pés e a matou”, contou Daltro.
“Em seguida, ele se direcionou para a criança e a esganou. Depois, voltou para trabalhar como se nada tivesse acontecido. Ele permaneceu no trabalho até as 19h e, depois de lá, ou em um posto de combustível, comprou um galão [de óleo diesel] por R$ 19 e gasolina por R$ 16, voltou para casa, embrulhou os dois corpos em cobertores, visando a melhor combustão, colocou os dois corpos no porta-malas do carro, levou os corpos para um local ermo, no Indubrasil, e ateou fogo”, narrou Daltro.
De acordo com o delegado, tudo isso foi causado pois o casal estava discutindo muito, e a jovem já até teria expressado a sua vontade de se separar. Também, porque Vanessa teria impedido ele de “fazer coisas legais”, como jogar bola em uma certa ocasião.
“O que mais nos chamou atenção, policiais experientes, foi ele relatar que voltou para a casa [após queimar as duas], a gente perguntar se ele se sentiu arrependido e ele dizer que dormiu melhor que nunca, porque havia se livrado de um problema. Qual era o problema? Ele não queria terminar o relacionamento para não ter que pagar pensão para a ex-mulher em relação ao bebê”, continuou o delegado.
O autor foi preso na 6ª Delegacia de Polícia Civil de Campo Grande, onde estava para registrar um boletim de ocorrência para suposto desaparecimento da mulher e da filha – inclusive, ele já havia inventado uma história sobre o que ocorreu no dia das mortes.
“Ele chegou a relatar para alguns amigos e familiares que ela teria saído por volta das 14h [desta segunda-feira] dizendo que se encontraria com uma amiga, mas que não havia voltado. Segundo ele, esperava que o corpo fosse descoberto daqui uns dois ou três dias, porque, nesse período, ele poderia apontar para um ex-namorado dela, alguma pessoa que não fosse ele”, contou Daltro.
“Ao ser interrogado nesse ponto, ele alegou que estava com muita raiva, revolta, puxou uns pontos que chegam a ser absurdo. Disse que certa vez ‘eu queria jogar bola e ela não deixou, e isso foi me deixando com raiva’”, afirmou o delegado.