A K-Infra ganhou o leilão no Estado ao lado da Galapagos, mas perdeu a concessão no RJ e o mesmo pode acontecer aqui
Vencedora do leilão da Rota da Celulose, em Mato Grosso do Sul, a K-Infra a qual se juntou à empresa Galapagos Capital para vencer a concorrência enfrenta problemas que podem afetar o acordo dela com o governo do Estado. Isso porque, nesta semana, o governo federal decretou a caducidade de um contrato da empresa para responder por uma rodovia no Rio de Janeiro, em função de uma dívida bilionária,
além de um recurso protocolado no certame do Estado.
De acordo com publicação do Diário Oficial da União (DOU) desta semana, o governo federal decretou a caducidade da concessão da concessionária K-Infra na BR-393/RJ, conhecida como a Rodovia do Aço, localizada no trecho entre Minas Gerais e Rio de Janeiro. Segundo o documento, a ação de deu "por descumprimento de cláusulas contratuais e disposições legais".
No caso de Mato Grosso do Sul, o consórcio coordenado pela XP Infra Fundo de Investimentos a segunda colocada no leilão realizado em 8 de maio, na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo (SP) protocolou um recurso colocando em xeque a capacidade técnica da vencedora. Essa informação é do Valor Econômico.
O questionamento surgiu justamente porque a operadora de rodovias K-Infra perdeu a única concessão que tinha no País, após ser constatada uma dívida de mais de R$ 1 bilhão decorrente de inadimplências do contrato.
A K-Infra assumiu a concessão da BR-393/RJ no fim de 2018. Em 2022, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) já havia dado a indicação de caducidade da concessão.
Mas foi em outubro de 2024 que o Ministério dos Transportes protocolou formalmente o pedido para que fosse publicado um decreto para declarar a caducidade da concessão. Porém, a empresa conseguiu uma liminar que foi, posteriormente, derrubada na segunda instância.
Agora, a K-Infra planeja entrar com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF), a fim de tentar manter o contrato.
Por meio de nota à imprensa, a empresa argumentou que a caducidade, oficializada nesta segunda-feira, foi decretada "sem a devida observância ao contraditório, à ampla defesa e ao devido processo legal".
"A decisão de caducidade, proferida de forma unilateral, representa uma punição desproporcional a quem escolheu agir diante do colapso de um contrato antigo e mal estruturado", afirmou.
A empresa disse ainda que a caducidade "envia uma mensagem preocupante a novos investidores" e "reforça percepções equivocadas de que apenas determinados grupos têm espaço no País".
Já o governo federal afirmou que o processo legal deu diversas oportunidades para a concessionária se defender e tentar dar uma solução ao contrato, mas sem sucesso.
"O processo foi longuíssimo, foi apreciado por diversos órgãos, todo o procedimento legal foi seguido, com ampla defesa da concessionária", garantiu George Santoro, secretário-executivo do Ministério dos Transportes, conforme reportagem do Valor Econômico.
Sem a concessionária, a responsabilidade sobre os 182,5 km da rodovia no Rio de Janeiro ficará a cargo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) isso até que o governo federal elabore um novo contrato de concessão, a ser feito por meio de estudos da Infra S.A., empresa pública federal que cuida desse tipo de licitação.
EM MS
A K-Infra venceu a concorrência em consórcio com a Galapagos Capital, com uma oferta de 9% de desconto sobre a tarifa máxima de pedágio.
A XP, consórcio que ficou em segundo lugar, ofereceu deságio de 8%.
No recurso apresentado pelo consórcio da XP, a empresa questionou os atestados técnicos do grupo e destacou descumprimentos contratuais na Rodovia do Aço.
Além disso, desengavetou um parecer de 2024 da ANTT afirmando que, entre 2020 e 2024, "foram lavradas nada menos que 75 multas por descumprimento dos tempos de atendimento médico, de socorro mecânico e de inspeção de tráfego".
O grupo também frisou que a rodovia apresenta "vícios operacionais que evidenciam falhas estruturais na gestão, na operação e na manutenção da rodovia, como a ocorrência de trincas, flechas e deflexões no pavimento, deficiências em sistemas de drenagem, erosões em taludes e, de forma especialmente grave, a liberação de trechos rodoviários sem a devida sinalização de segurança".
No recurso do consórcio da XP, o grupo também afirmou que "foram identificados diversos documentos emitidos ou autenticados fora do prazo determinado pelo edital", como a ata de assembleia de reunião dos sócios da Galapagos, o balanço patrimonial do exercício de 2024 da K-Infra, entre outros, e questiona a saúde financeira da K-Infra, a qual tem um capital social de R$ 10 mil e acumula prejuízos em sua operação nos últimos anos.
Além de ter solicitado a inabilitação da vencedora, o que levaria à vitória da segunda colocada, o consórcio pediu que a ANTT faça diligências sobre o atestado técnico e a capacidade da K-Infra.
Procurado pelo Correio do Estado, o governo de MS, responsável pela concessão da Rota da Celulose, disse que recebeu o recurso nesta terça-feira e que tem até o fim de julho para responder o pedido.
"Recebemos o recurso, e as interessadas foram notificadas nesta terça-feira, para apresentar as contrarrazões no prazo de três dias úteis. Após os prazos, a comissão avaliará o recurso e as contrarrazões, com a previsão de finalização do processo licitatório no fim de julho e a declaração da vencedora", comunicou, por meio de nota.
Saiba
O projeto da Rota da Celulose é composto por trechos das estradas estaduais MS-040, MS-338 e MS-395 e por trechos das rodovias federais BR-262 e BR-267. Ao todo, são 870,3 km de rodovias.
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