Em uma audiência pública que se estendeu por três horas e meia e que foi marcada pela ausência das principais autoridades ambientais do Governo do Estado na noite desta quinta-feira (29), em Bataguassu, a gigante da celulose Bracell informou que os trabalhadores temporários ficarão longe da área urbana e distantes também do canteiro de obras.
Conforme a previsão, no pico das obras, o que deve ocorrer somente em 2028, serão até 12 mil pessoas na região ao mesmo tempo. E, para abrigar a maior parte destes trabalhadores serão construídos dois alojamentos, com capacidade para abrigar cinco mil pessoas em cada um. Eles serão subdivididos para até 1,25 mil trabalhadores.
Embora não tenham sido informados os locais exatos destes alojamentos, os representantes da Bracell na audiência pública informaram que um deles ficará a 15 quilômetros da cidade e o outro, a 25 quilômetros.
A fábrica, que demandará investimentos de R$ 16 bilhões, será construída em uma área de 1,3 mil hectares a nove quilômetros da área urbana de Bataguassu, às margens da BR-267 e a quase quatro quilômetros das margens do lago da hidrelétrica de Porto Primavera (Rio Paraná), de onde serão retirados três mil litros de água por segundo para o processo de cozimento e industrialização dos cavacos de eucaliptos. Deste volume, cerca de 2,5 mil litros serão devolvidos ao rio por segundo.
Ou seja, se a fábrica ficará a nove quilômetros da cidade e os alojamentos a 15 e 25, isso significa que os operários serão acomodados em locais totalmente isolados, que atualmente não contam com qualquer tipo de infraestrutura. No pico da obra, estima a Bracell, serão necessários entre 80 e 90 ônibus para fazer o transporte destes operários.
Nestes alojamentos, conforme André Bogo, Diretor do Projeto no Estado, haverá estrutura básica para atividades de lazer e, principalmente, para atendimentos médicos. Com isso, segundo o representante da empresa, estão afastados os riscos de uma possível sobrecarga na rede pública de saúde de Bataguassu. Mesmo assim, existe a previsão para construção de uma UPA na cidade já a partir do próximo ano.
A melhora no sistema público de saúde será necessária porque a estimativa é de que a população do município, que hoje é de cerca de 24 mil moradores, chegue a 30 mil nos próximos dez anos, o que será resultado dos dois mil trabalhadores fixos que a indústria demandará depois que entrar em operação.
E antes mesmo de a empresa conseguir a autorização oficial para instalação, a cidade já enfrenta sério problema com a explosão de preço de imóveis para venda e aluguel. Durante a audiência pública, cerca de 20% dos 60 questionamentos feitos pelos participantes foram direcionados a questões habitacionais.
Embora o estudo de impacto ambiental não tenha abordado a questão, André Bogo garantiu, em cinco oportunidades diferentes da audiência, que construirá uma vila para abrigar parcela de seus funcionários. Em nenhuma das vezes, porém, a empresa informou a quantidade de casas que pretende construir.
Em Ribas do Rio Pardo, por exemplo, a Suzano construiu 954 casas para conter a especulação imobiliária durante a construção de sua fábrica que consumiu R$ 22,3 bilhões. Em Inocência, onde a Arauco está investindo em torno de R$ 25 bilhões, parte do dinheiro será destinada à edificação de 700 moradias para os funcionários e assim conter a explosão de preços dos imóveis e dos alugueis.
Mas, se a Bracell, pelo menos por enquanto, não seguiu a estratégia da Arauco que se refere às questões habitacionais, ela seguiu seu exemplo na estratégia de construir os alojamentos longe da área urbana e distante do canteiro de obras.
Em Ribas do Rio Pardo, estes alojamentos ficaram na área urbana e, segundo o prefeito de Inocência, Antônio Ângelo Garcia dos Santos, o Toninho da Cofap, isso acabou gerando uma série de problemas sociais e de segurança pública que podem ser evitados com a construção dos alojamentos em locais afastados.
AUSÊNCIAS
A realização da audiência pública antes da concessão da licença de instalação é uma exigência da legislação e, se houvessem questionamentos pertinentes, as autoridades da área ambiental poderiam até mesmo negar a concessão.
Porém, a contar pelas ausências, esta possibilidade não existe por parte do Governo do Estado. Nem mesmo o presidente do Imasul, André Borges, compareceu ao evento em Bataguassu. O Imasul é o órgão responsável pela análise dos riscos ambientais que o empreendimento representa.
O secretário de Meio Ambiente, por sua vez, preferiu acompanhar a comitiva estadual a Paris, na França, para receber o certificado de área livre da aftosa (sem vacinação), a participar dos debates sobre os impactos da obra na região leste do Estado.
Da Assembleia Legislativa, o único representante foi o deputado Pedro Caravina, que já foi delegado e prefeito de Bataguassu por dois mandatos. Atualmente, sua mulher, Wanderleia Caravina, está à frente do Executivo municipal.