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Marco temporal pode acabar com 26 terras indígenas que estão regularizadas

Mudança na legislação aprovada pode impedir que outras 34 terras reivindicadas pela população nativa saiam do papel

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A aprovação pela Câmara dos Deputados do Projeto de Lei (PL) 490/07, que estabelece o marco temporal para a demarcação de terras indígenas, pode acabar com 26 territórios já homologados e regularizados em Mato Grosso do Sul.

Isso porque, de acordo com o PL, uma terra indígena só pode ser demarcada se for comprovado que os povos originários estavam no local antes ou na data de promulgação da atual Constituição Federal, que ocorreu no dia 5 de outubro de 1988.

Qualquer demanda por demarcação que não se encaixe nesse recorte deve ser automaticamente rejeitada.

A medida foi encaminhada para o Senado e, caso aprovada, deve causar grande quantidade de ações na Justiça por parte de fazendeiros, solicitando a revisão de áreas que já haviam sido demarcadas e até regularizadas (último processo para que a posse da terra seja concedida aos indígenas).

Em Mato Grosso do Sul, de acordo com dados da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), existem 33 terras com a posse dos indígenas confirmada (sendo 4 homologadas e 29 regularizadas).

Desse total, 26 terras podem sair da posse dos povos nativos para voltar à de fazendeiros que tiverem documentos das áreas.

Isso pode ocorrer porque nessas localidades dificilmente havia indígenas residindo durante a promulgação da Constituição Federal. Matias Hempel, funcionário do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), lembrou que entre os anos de 1915 e 1970, principalmente durante a ditadura militar, os povos nativos foram confinados à força pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) em reservas.

Para tanto, foram criadas oito áreas no Estado para onde os indígenas foram levados: Aldeia Limão Verde, em Amambai; Amambai, localizada na cidade de Amambai; Dourados ou Jaguaripu e Bororó, que ficam em Dourados; Pirajuí, em Paranhos; Porto Lindo, em Japorã; Sassoró, em Tacuru; e Taquaperi, em Coronel Sapucaia.

Há ainda também a Terra Indígena de Lagoa Rica, em Douradina, porém, ela está dentro de uma área maior, na Aldeia Panambi-Lagoa Rica, que, por ter solicitado a ampliação de sua área, encontra-se hoje delimitada, aguardando ser declarada.

As fases do processo de demarcação de terras indígenas são as seguintes: estudo, delimitação, declaração, homologação, regularização (após o decreto presidencial) e interdição (usado para povos indígenas isolados, sem nenhum caso em MS).

Mato Grosso do Sul tem 17 terras indígenas em estudo (número maior que o apresentado em reportagem anterior pelo acréscimo da Terra Indígena Vitoi Kuê, entre Japorã e Mundo Novo, da etnia guarani), 4 terras já delimitadas e 11 áreas declaradas, ou seja, são 34 pretendidas.

PRECEDENTES

De acordo com Matias Hempel, já existem casos em Mato Grosso do Sul de territórios em que, mesmo com a demarcação declarada e regularizada, houve contestação na Justiça por parte de fazendeiros.

“A declaração de demarcação da Terra Indígena Guyraroká, em Caarapó, já está suspensa no STF [Supremo Tribunal Federal], por uma decisão do ministro Gilmar Mendes. Ela foi declarada com 50 hectares dos 11.400 hectares e há tentativa de reverter isso”, afirmou Hempel.

“Outro caso é o da Aldeia Limão Verde, em Aquidauana, que está regularizada, mas o processo foi suspenso porque o proprietário da fazenda entrou na Justiça. Então, essa questão do marco temporal, apesar de ter sido aprovado só agora na Câmara, já vem sendo usado na Justiça de Mato Grosso do Sul e no TRF3 [Tribunal Regional Federal da 3ª Região]”, completou.

PROTESTOS

Com a aprovação do PL 490, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) informou oficialmente que seguirá os protestos e movimentos para impedir o seguimento da tramitação favorável do projeto em Brasília.

A Apib disse “esperar que a defesa da Constituição Federal seja feita pelo Supremo Tribunal Federal, que vai julgar a tese do marco temporal no dia 7 de junho”.

O movimento indígena anunciou, em reunião de suas lideranças transmitida ao vivo ontem, que será montado um acampamento em frente ao STF do dia 5 até o dia 8.

De acordo com o coordenador-executivo da Apib-Coiab, Kleber Karipuna, são esperadas de 2 mil a 3 mil lideranças indígenas no ato em Brasília.

A coordenadora-executiva da Apib, Val Eloy Terena, confirmou ao Correio do Estado a presença do movimento indígena de Mato Grosso do Sul nesta ação.

“Com certeza a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil vai descer toda para Brasília e vai fazer a luta que a gente sempre fez. Esta é uma mobilização nacional, e todas as organizações-base da Apib vão participar”, informou Val Terena.

Kleber Karipuna e outras lideranças indígenas, como a ministra dos Povos Indígenas (MPI), Sonia Guajajara, e o secretário-executivo do MPI, Eloy Terena, estiveram em reunião, na terça-feira, com o presidente do senado, Rodrigo Pacheco. 

“Levamos para ele a pauta do PL 490 e solicitamos que não fosse aprovado o PL no Senado e que fosse tramitado com toda a análise de inconstitucionalidade. Ele [Rodrigo Pacheco] garantiu que o PL não será votado com urgência no Senado”, declarou Kleber Karipuna.

negócio bilionário

Sheiks do petróleo estão de olho em mais três usinas de cana em MS

O fundo de investimentos Mubadala, de Abu Dhabi, já controla três e agora está negociando a compra das usinas da Raízen, em Rio Brilhante e Caarapó

07/06/2025 11h30

Usina da Raízen de Caarapó, na qual existe promessa para geração de etanol de segunda geração, estaria no pacote de venda

Usina da Raízen de Caarapó, na qual existe promessa para geração de etanol de segunda geração, estaria no pacote de venda

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Empresa estatal controlada pelos sheiks do petróleo de Abu Dhabi, a Mubadala Capital está negociando a aquisição de mais três usinas de açúcar e etanol em Mato Grosso do Sul, estado onde o bilionário fundo de investimentos árabe já tem três unidades.

Desta vez, segundo publicação do jornal O Globo de sexta-feira (6), o alvo das negociações, que estariam bastante adiantadas, seriam as usinas Rio Brilhante e atempo, ambas no município de Rio Brilhante. Desde 2021 elas pertencem à Raízen, do Grupo Cosan, que está tentando se desfazer das indústrias e dos cerca de 150 mil hectares de plantações de cana.

A publicação carioca não cita a unidade  da Raízen de Caarapó, também comprada em 2021 do grupo francês Louis Dreyfus Company (LDC). Mas, ela também estaria no pacote de negociação entre a Atvos, controlada pelo Mubadala, e a Raízen. 

Para a usina de Caarapó a Raízen chegou a anunciar, ainda em 2023, investimento de R$ 1,3 bilhão para produção de etanol de segunda geração, produzido a partir do bagaço da cana. Mas, apesar daquele anúncio, a venda pode ocorrer antes da concretização deste investimento. 

Em Mato Grosso do Sul, os sheiks do petróleo, por meio da Atvos, já controlam as usinas Santa Luzia, em Nova alvorada do Sul; a Eldorado, no município de Rio Brilhante; e da usina de Costa Rica, no município com o mesmo nome.

A publicação do jornal carioca se baseia em informações da agência de notícias Bloomberg, que teria tido o a três fontes envolvidas na negociação bilionária. Ainda de acordo com a Bloomberg, o Itaú BBA estaria conduzindo as negociações em nome da Raízen, controlada pelo bilionário Rubens Ometto. 

Caso o negócio seja concretizado, os sheiks do petróleo ariam a controlar seis das 19 usinas de etanol e açúcar de Mato Grosso do Sul, onde 916 mil hectares estão ocupados com cana-de-açúcar na safra que está em andamento em 2025. 

A previsão é de que em Mato Grosso do Sul sejam produzidas 50,5 milhões de toneladas de cana nesta safra, que começou em abril. Todas as plantas geram eletricidade, somando 2 milhões de MWh de abril a dezembro. Doze delas injetam o excedente para a rede nacional de energia elétrica. 

DINHEIRO DO PETRÓLEO

Os árabes entraram no setor sucroenergético de Mato Grosso do Sul há pouco mais de dois anos. No começo de 2023 o fundo de investimentos Mubadala Capital anunciou investimentos da ordem de R$ 3 bilhões ao longo de três anos nas três usinas do grupo Atvos em Mato Grosso do Sul. 

Por conta destes aportes, em setembro daquele ano as usinas, que pertenciam ao grupo Odebrecht, conseguiram superar o estágio de recuperação judicial em que se encontravam desde 2019.  

Ao final do investimento de R$ 3 bilhões no Estado, eles prometiam aumentar a capacidade de produção de cana em mais de três milhões de toneladas nas três unidades no Estado, onde estão empregadas em torno de quatro mil pessoas. 

A Santa Luzia, por exemplo, havia fechado a safra anterior com quatro milhões de toneladas, mas tem capacidade para até 5,5 milhões. A Eldorado, por sua vez, processou R$ 3,1 milhões de toneladas, mas seu potencial é para até R$ 4,1 milhões de toneladas. Em Costa Rica, a capacidade é de cerca de 4 milhões de toneladas por ano. 

NEGÓCIO LUCRATIVO

E o interesse dos árabes por mais três usinas possivelmente tem relação direta com o lucro das unidades que já têm em Mato Grosso do Sul. Depois do aporte financeiro, duas das três usinas da Atvos no Estado recuperaram suas finanças, aumentaram a produção de cana e fecharam a safra do ano ado com lucro líquido superior a meio bilhão de reais.

Juntas, as usinas Santa Luzia e Eldorado, respectivamente instaladas em Nova Alvorada do Sul e em Rio Brilhante, anunciaram superávit 348% superior ao ano anterior, fechando com lucro de R$ 520 milhões, ante R$ 116 milhões no período ado. 

A usina Eldorado, instalada a cerca de 80 quilômetros da zona urbana de Rio Brilhante, havia fechado a safra anterior com prejuízo de R$ 13,4 milhões. No ciclo seguinte, encerrado em março do ano ado, contabilizou lucro líquido de R$ 269 milhões. 

O dinheiro do petróleo para produzir combustível renovável foi destinado principalmente ao aumento na produção de cana. Na usina Eldorado, o ano terminou com produção de 4 milhões de toneladas, o que é 29% a mais que as 3,1 milhões de toneladas da safra anterior. . 

O lucro da usina de Nova Alvorada do Sul teve crescimento menor que a de Rio Brilhante, ando de R$ 129 milhões para R$ 251milhões.

NÚMEROS

Em Mato Grosso do Sul, a cana-de-açúcar está presente em 48 municípios. Mas, quase um terço (32%) da área plantada está justamente nos três municípios onde os árabes estão presentes e onde pretendem comprar mais duas usinas (Rio Brilhante, Nova Alvorada do Sul e Costa Rica).


 

INTERIOR

Queimada viva por capataz, mulher não resiste e é 15ª vítima de feminicídio no ano em MS

Eliane Guanes, de 59 anos, sofreu ferimentos graves após Lourenço Xavier, de 54 anos, jogar gasolina em seu corpo e atear fogo

07/06/2025 10h45

Lourenço Xavier, de 54 anos, é o autor do 15º feminicídio no ano em MS

Lourenço Xavier, de 54 anos, é o autor do 15º feminicídio no ano em MS Foto: Divulgação

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Eliane Guanes, de 59 anos, não resistiu às graves queimaduras sofridas por capataz e marca a 15ª morte por feminicídio em Mato Grosso do Sul neste ano.

Na tarde desta sexta-feira (06), Lourenço Xavier, de 54 anos, jogou gasolina no corpo de Eliane e ateou fogo na mulher, em fazenda na região da Nhecolândia, no Pantanal de Corumbá, onde os dois trabalhavam.

Diante disso, a vítima ficou gravemente ferida, com cerca de 90% da superfície corporal com queimaduras de 2 e 3º grau. Equipes do Grupamento de Operações Aéreas e Unidade de Resgate e e Avançado do Corpo de Bombeiros Militar conseguiram localizá-la e efetuar o resgate, levando-a à Santa Casa de Campo Grande de avião.

Porém, segundo informações do jornal Diário Corumbaense, Eliane já teria chegado ao complexo hospitalar da capital sem sinais vitais, sendo sua morte confirmada às 23h30 desta sexta-feira (06).

Lourenço, que tem antecedentes criminais por diversos crimes, incluindo violência doméstica, fugiu do local, mas foi encontrado horas depois e preso pela equipe do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (BOPE). Ele será encaminhado para a 1ª delegacia de Polícia Civil de Corumbá.

Segundo o delegado Fillipe Araújo Izidio Pereira, em entrevista ao jornal Diário Corumbaense, o crime se caracteriza como feminicídio, justamente pelo rapaz ter cometido o delito pelo fato da vítima ser mulher.

“Algumas informações iniciais e áudios que tivemos o, dão conta de que ele propôs um relacionamento à vítima, mas ela disse não. Ele não aceitou e por esse motivo, ateou fogo nela. Por esse menosprezo ao gênero da mulher, à condição de mulher, o crime se enquadra sim como feminicídio, apesar de não haver relação íntima e familiar entre eles”, explicou o responsável pelo caso, que confirmou que Lourenço ará por audiência de custódia em breve.

Histórico em 2025 - Feminicídio

Com a confirmação da morte de Eliane, esta foi a 15ª vítima de feminicídio no ano. Abaixo, confira a lista das outras vítimas por ordem cronológica:

Lembrando que, Feminicídio é quando há "o homicídio de mulheres cometido em razão do gênero, ou seja, quando a vítima é morta por ser mulher, e está diretamente relacionada à violência doméstica e familiar".

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