Correio B

CINEMA

O 3º Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito ganha lançamento oficial nesta sexta-feira

Foram mais de 900 filmes inscritos, produzidos em 10 países, em busca da disputa pelo troféu Pantanal, além de prêmios em dinheiro e da vitrine proporcionada pelo evento

Continue lendo...

Com os olhos voltados para o público de todas as idades e regiões, o 3º Bonito CineSur – Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito ganha lançamento oficial nesta semana, em dois momentos especiais: nesta sexta-feira, no Bioparque Pantanal, em Campo Grande, a partir das 9h; e neste sábado, 
às 20h, no restaurante Espaço Jack, em Bonito.

O festival, que já movimenta a cidade com ações formativas – a exemplo das oficinas de animação ministradas por Ara Martins em maio – se prepara para transformar Bonito em uma verdadeira janela para o cinema contemporâneo da América do Sul entre os dias 25 de julho e 2 de agosto.

Nessa terceira edição, o Bonito CineSur amplia a sua missão de integrar culturas, formar plateias e fortalecer a identidade cinematográfica da região.

“O objetivo principal do Bonito CineSur é contribuir para a integração cultural entre os países do continente e, ao mesmo tempo, trazer para Bonito e região o que de mais interessante se tem produzido no cinema sul-americano”, afirma o curador do evento, José Geraldo Couto.

“O público pode esperar uma mostra bastante rica e vigorosa dessa produção cinematográfica recente, com filmes que abordam temas sociais relevantes e, ao mesmo tempo, trazem as diferentes tradições, linguagens, paisagens e sotaques dos vários países”, garante.

DEZ PAÍSES

Serão exibidos filmes do Brasil, da Argentina, do Peru, do Chile, da Bolívia, da Colômbia, da Venezuela, do Uruguai, do Paraguai e do Equador, além de coproduções com países de fora da América do Sul, entre longas e curtas-metragens, documentários, animações, dramas e comédias.

São obras que refletem a diversidade estética e temática do cinema sul-americano contemporâneo, de narrativas intimistas a reflexões sociais e ambientais, ando por experiências visuais marcantes e produções voltadas à infância e à juventude.

“Estamos bastante animados e ansiosos para ver a reação do público”, complementa Couto.

A Mostra Ambiental também promete provocar reflexões importantes. Para a curadora Elis Regina, essa parte da programação é essencial, por estar profundamente conectada com o território onde o festival acontece.

“Essa mostra propõe uma travessia cinematográfica entre denúncia, esperança e memória. São filmes que abordam a crise climática, os incêndios no Pantanal, a escassez de água, o uso de agrotóxicos, mas também apontam caminhos de resistência, a força dos povos originários, a relação ancestral com a terra e a natureza. É um convite para repensar a nossa relação com o meio ambiente não apenas como recurso, mas como organismo vivo”, explica.

MOSTRA MS

Outro destaque é a Mostra MS, dedicada ao cinema sul-mato-grossense. Para o curador Marcos Pierry, professor do curso de Audiovisual da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e crítico do Correio B, essa edição marca um salto importante na produção local.

“Tivemos um aumento expressivo na quantidade e na qualidade de filmes de ficção, o que mostra maturidade e talento da nossa produção. Temos temas como povos originários, infância, emancipação da mulher, além de um olhar sensível sobre o fazer artístico. O Bonito CineSur tem sido, desde 2023, um espaço para colocar a nossa produção regional lado a lado com o cinema sul-americano, criando um ambiente para assistir, discutir e repensar o cinema”, afirma.

TRANSFORMAÇÃO

“O cerne da seleção deste ano se concentra em um equilíbrio entre ‘autoralidades’ já consagradas e novas narrativas de ficção e não ficção que celebram estratégias de resistência e sobrevivência de vivências vulnerabilizadas pela ordem imposta. A gente está falando de cinema como ferramenta de transformação”, pontua o curador Rodrigo Fonseca.

OFICINAS

A programação contempla ainda oficinas para a comunidade, como as do Bonito CineSur Educa – espaço dedicado à formação, com cursos, oficinas, palestras e sessões de cinema dirigidas especialmente a estudantes.

E tudo isso gratuitamente, com o a conteúdos de qualidade ministrados por importantes profissionais do cinema. O objetivo é ativar, promover e incluir o cinema como uma possibilidade real para a comunidade de Bonito e também jovens e adultos de outras regiões.

PONTES E FOMENTO

A curadora Cecília Diez também destaca o impacto do festival.

“O Bonito CineSur é um evento fundamental para a promoção do cinema independente sul-americano. Ele constrói pontes entre cineastas, fomenta a criatividade, movimenta a economia local e promove o desenvolvimento regional. É uma honra fazer parte dessa edição tão potente”, diz.

O festival é uma realização da Associação Amigos do Cinema e da Cultura (Aacic), em parceria com o Ministério da Cultura, do governo federal, por meio de emenda parlamentar do deputado federal Vander Loubet. Conta com patrocínio da Fecomércio-MS, do Sesc-MS, da Emgea e da Agência Nacional do Cinema (Ancine).

Conta também com o apoio da Secretaria Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico e da prefeitura de Bonito, da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul (Fundtur), da Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura (Setesc) e do governo de MS, além do apoio cultural da Energisa e da Zoom Publicidade.

Em 2024, o Bonito CineSur recebeu a inscrição de 900 produções, exibiu 42 filmes em 120 horas de programação, mobilizou mais de 5 mil pessoas e impactou diretamente a economia criativa de Bonito.

FILMES EM COMPETIÇÃO

Mostra de Longas Sul-Americanos

  • “A MELHOR MÃE DO MUNDO”, de Anna Muylaert (Brasil, ficção).
  • “BRASILIANA”, de Joel Zito Araújo (Brasil, documentário).
  • “CHUZALONGO”, de Diego Ortuño (Equador, ficção).
  • “ORO AMARGO”, de Juan Olea (Chile, Uruguai e Alemanha, ficção).
  • “QUINOGRAFIA”, de Mariano Donoso e Federico Cardone (Argentina, doc.).
  • “REDENCIÓN”, de Miguel Barreda Delgado (Peru, ficção).

Mostra de Curtas Sul-Americanos

  • “AMOR EN LOS TIEMPOS DE COMO SEA QUE SE LLAME EL PRESENTE”, de Valentina Qaszulxkef (Colômbia, animação).
  • “AYAHUANCO”, de Salvador Pariona Díaz (Peru, ficção).
  • “DESVELO”, de Inti Torres (Venezuela, ficção).
  • “LA FALTA”, de Carmela Sandberg (Argentina e Uruguai, ficção).
  • “LAGRIMAR”, de Paula Vanina (Brasil, animação).
  • “REVELACIÓN”, Emanuel Moreno Elgueta (Chile, ficção).

Mostra Ambiental – Longas

  • “KARUARA: LA GENTE DEL RÍO”, de Miguel Araoz Cartagena e Stephanie Boyd (Peru, documentário).
  • “KOPENAWA: SONHAR A TERRA-FLORESTA”, de Marco Altberg e Tainá Lucas (Brasil, documentário).
  • “LA CUENCA”, de Colectivo Left Hand Rotation (Chile, documentário).
  • “POR EL PARANÁ: LA DISPUTA POR EL RÍO”, Alejo Di Risio e Franco Gonzalez (Argentina, documentário).
  • “RUA DO PESCADOR Nº 6”, de Bárbara Paz (Brasil, doc.).
  • “SINFONIA DA SOBREVIVÊNCIA”, de Michel Coeli (Brasil, doc.).

Mostra Ambiental – Curtas

  • “INSUSTENTÁVEL: A REALIDADE DO PETRÓLEO NA AMAZÔNIA”, de André Borges e Fer Libague (Brasil, documentário).
  • “SOBRE A CABEÇA OS AVIÕES”, de Amanda Costa e Fausto Borges (Brasil, documentário).
  • “SOBRE RUÍNAS”, de Carol Benjamin (Brasil, documentário).
  • “UMA MENINA, UM RIO”, de Renata Martins (Brasil, documentário).
  • “JICHI: EN BUSCA DEL GUARDIÁN DE LAS AGUAS”, de Paola Quispe Quispe (Bolívia, documentário).
  • “POR LA TIERRA”, de Irene Kuten (Argentina, documentário).

Mostra de Filmes Sul-Mato-Grossenses

  • “A ÚLTIMA PORTEIRA”, de Rodrigo Rezende (curta, ficção).
  • “ELEONORA”, de Ligia Prieto (curta, ficção).
  • “ENIGMAS NO ROLÊ”, de Ulísver Silva (longa, ficção).
  • “JARDIM DE PEDRA – VIDA E MORTE DE GLAUCE ROCHA”, de Daphyne Schiffer Gonzaga (curta, documentário).
  • “KOI E O RIO”, de Ricardo Câmara e Maurício Copetti (média-metragem, documentário).
  • “TEMPESTADE OCRE”, de Deivison Pedrê (curta, ficção).

SERVIÇO

Lançamento da terceira edição do Bonito CineSur – Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito
Em Campo Grande, ocorrerá nesta sexta-feira, às 9h, no Bioparque Pantanal. 
Já em Bonito será neste sábado, às 20h, no restaurante 
Espaço Jack.

Assine o Correio do Estado

Dia do Meio Ambiente

Projeto exibe criações de mulheres de MS que têm vida transformada pela costura sustentável

Bolsas e órios são criados a partir de bags de fertilizantes e uniformes e, mais que somente lazer, as mulheres podem ver o projeto como fonte de renda

05/06/2025 18h15

Exposição Costura Sustentável

Exposição Costura Sustentável Foto: Gerson Oliveira/Correio do Estado

Continue Lendo...

O Bioparque Pantanal, em Campo Grande, está sendo palco da Exposição Costura Sustentável, um projeto que transforma resíduos como EPIs usados, bags de fertilizantes e uniformes em bolsas e órios de moda, como colares, pulseiras, além de necessaires e estojos.  

Produtos variados estarão expostos até o dia 7 de junho em Campo Grande e, de 10 a 15, no Shopping Três Lagoas e contam histórias através de cada produto montado a partir do que, aos nossos olhos, é lixo. 

Criado em Bataguassu, em parceria com a MS Florestal, o projeto deu origem à Associação Ipê Rosa, composta por mulheres que viram a costura como uma forma de lazer e fonte de renda. Com o apoio do SEBRAE/MS, a iniciativa conta com 25 mulheres que usam a sustentabilidade como uma oportunidade de recomeçar e aprender. 

“Nós atendemos um chamado da Bracell em parceria com a prefeitura de Bataguassu que perguntaram quem se interessava por costura. Nós não tínhamos ideia de como isso se desenvolveria. Depois, nós começamos o o a o, treinamento, aula, formação profissional, orientação com artistas, designers e artesãos”, explica Ana Nely Castelo, participante do projeto. 

Ana fala, com muito orgulho, que hoje sua profissão é costureira e que está no projeto desde o começo e que o projeto a ajudou a desenvolver as habilidades. 

“Eu era costureira, digamos assim, no nível doméstico, costura criativa, comercializava minhas peças, que eram basicamente necessaires, bolsinhas de maternidade. Hoje, eu vejo que desenvolvi um potencial muito maior”. 

Ela reforça que o projeto melhora a autoestima, o posicionamento perante a realidade de vida, já que, muitas delas, vêm de projetos sociais e, aos poucos, estão tendo a vida transformada. 

“Muitas mulheres ali estão tendo uma nova visão de vida. Muitas vêm de situações difíceis dentro de casa e agora eles estão vendo que é possível. Então algumas já começaram a trocar de máquina, aumentar a produção de trabalhos que elas já faziam com melhor qualidade, com melhor acabamento. Isso está retornando para elas numa independência, numa visão nova de que elas podem melhorar a vida delas, da família, daquele círculo familiar delas”. 

Exposição Costura SustentávelAna Nely Castelo Branco, costureira

Os materiais usados para a produção das peças vêm através dos resíduos da silvicultura de operações da MS Florestal e da Bracell. 

“O pessoal traz pra gente as bags de fertilizante, alguns são separados, outros são lavados. A partir disso, aqueles que são aproveitados, são usados para fabricar bolsas”, explica o gerente de relações institucionais, Bruno Madaleno.

 Além de bags, também são utilizados uniformes de operários que não estão mais em condições de uso. As peças doadas se transformam em estojos, bolsas e órios de tipos variados. 

Madaleno explica que o projeto surgiu a partir dos três pilares que a MS Florestal/Bracel tem: a educação, o empoderamento através da geração de renda e o bem estar. 

“Esse projeto em si, o Costura Sustentável, entra no pilar de empoderamento. É um projeto único e exclusivamente feito por mulheres empreendedoras, que constroem todos esses ítens. E ainda faz a economia circular, utilizando a sustentabilidade”, comenta. 

Ana Nely explica que o material não é um material fácil de ser usado e é bem diferente da costura convencional. Foram necessários cursos para aprender a manusear e muitas máquinas quebradas até que elas “pegassem o jeito”. 

“Primeiro aprendemos a desmanchar, a tratar o material. Ele é um material muito difícil. Esse polipropileno que é da indústria do agro, é usado para fazer transporte de material, ele é duro, ele é difícil. Nós tivemos que aprender, quebramos muita máquina nesse processo. Mas aprendemos a trabalhar e também a reutilizar os uniformes, o jeans e o plástico, que foi o mais difícil”, explica a costureira. 

Heloísa Alves é a integrante mais velha do grupo. Aos 73 anos, ela conta que viu o projeto como uma oportunidade de sair da solidão e melhorar muitos aspectos da vida, além de cuidar do meio ambiente. 

“Pra mim, melhorou muito, porque deu mais entendimento pra gente, uma força a mais pra gente que fica isolada em casa. Pra mim foi muito valioso. Eu melhorei na paciência, na convivência, no companheirismo e melhorei o trabalho também. Mas proteger o meio ambiente é o que eu mais quero”, conta. 

Exposição Costura Sustentável

A presidente da Associação Ipê Rosa, Miriam Priscila Belo, explica que o início do projeto foi com um único modelo de ecobag e evoluiu para o aprendizado de modelagem de roupa, jaquetas, necessaires, além de aprenderem sobre empreendedorismo. 

As peças são vendidas e o dinheiro é dividido igualmente entre todas as associadas. 

“Mostrar o nosso trabalho, o tanto que a gente se esforça, e ver exposto aqui é uma emoção muito grande. Mostrar que, o que iria pro lixo, a gente transforma em algo que pode ser usado por muito e muito tempo”, conta emocionada e ressalta que todo esforço “valeu a pena”.  

Ela explica que a ideia foi trazida, primeiramente, como uma forma de lazer para as mulheres e que deu tão certo que foi visto potencial. 

“A MS Florestal apresentou pra gente a ideia como um hobbie novo, pra gente aprender a fazer algumas coisas diferentes. Depois, quando montamos a Associação, junto com o Sebrae,apresentaram a ideia de vender pra gente, nós vimos uma oportunidade e compramos a ideia”. 

Inclusão produtiva

Cláudio Mendonça, superintendente do Sebrae MS define o projeto como uma “inclusão produtiva” e destaca a importância de dar espaço para que as trabalhadoras tenham as artes expostas e vistas. 

“Nós colocamos aqui como uma oportunidade de trazer pessoas que, às vezes, estão fora do mercado, para trazer sua arte, seu produto e, aproveitando o Dia Mundial do Meio Ambiente, mostrar coisas que estavam indo pro lixo e hoje estão virando arte e sendo expostas”. 

Ele ressalta que, para muitas mulheres, é uma oportunidade única. “Imagina para uma mulher simples, do interior de Bataguassu ou de outra região, expor seu produto no Bioparque, dentro do principal ponto turístico do nosso estado, mostrar que o produto tem qualidade, é uma forma delas mostrarem que o trabalho realizado é bom e entrega bons resultados”. 

Para o superintendente, o projeto não tem prazo de validade e o objetivo é “criar oportunidade para todos que precisam”. 
 

JAZZ

Trombonista Ryan Keberle volta à Capital para show e gravação de álbum com a banda Urbem

Apresentação será amanhã, e os ingressos estão disponíveis pelo Sympla a R$ 40

05/06/2025 10h00

A partir da esquerda, Ana Ferreira, Bianca Bacha, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno

A partir da esquerda, Ana Ferreira, Bianca Bacha, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno Foto: Arquivo

Continue Lendo...

O trombonista norte-americano Ryan Keberle não tem tanta familiaridade com o som de alguns músicos brasileiros que fizeram e fazem história com o instrumento – como Raul de Barros (1915-2009), Raul de Souza (1934-2021) ou Bocato – quanto deve ter com o trabalho de Tommy Dorsey (1905-1956) ou Curtis Fuller (1932-2021), dois dos papas do trombone de seu país que, de diferentes maneiras, marcam a história do jazz. Mas isso está longe de significar pouco envolvimento com a MPB ou com a música instrumental feita por aqui.

Muito pelo contrário. Após sucessivos álbuns dedicados a Milton Nascimento (“Sonhos da Esquina”, 2022) e Edu Lobo (“Considerando”, 2023), em que, integrando o Collectiv do Brasil, revisita dois dos mais preciosos legados de nossa arte musical com desenvoltura e inspiração, o jazzman nascido em Bloomington (Indiana) e radicado em Nova York está lançando “Choro das Águas” (2025).

Neste terceiro trabalho, ele mergulha na obra de Ivan Lins, mais um mergulho de fôlego de Keberle na música brasileira ao lado do Collectiv, quarteto formado em 2018 com os brasileiros Felipe Silveira, Thiago Alves e Paulinho Vicente, e que é uma das várias formações que o instrumentista, compositor e educador vem conduzindo, com frequentes shows, gravações e lançamentos.

Lançou recentemente “Bright Moments” (2024), com o seu octeto, e “Music is Connection” (2024), com o grupo Catharsis, que mereceram uma alentada resenha na edição de janeiro da Downbeat, publicação que é considerada a bíblia do jazz nos EUA. E, agora, às vésperas de completar 45 anos, Keberle está prestes a ingressar na discografia de Mato Grosso do Sul, graças ao diálogo musical com a banda Urbem.

SEMPRE POR AQUI

O músico se aproximou de Sandro Moreno (bateria), Gabriel Basso (baixo), Ana Ferreira (piano) e Bianca Bacha (voz), que formam a Urbem, em março de 2023, quando se apresentou no Campo Grande Jazz Festival e acabou fazendo uma participação especial no show realizado pelo quarteto no festival capitaneado por Franciella Cavalheri e Adriel Santos – evento que, por esse e outros motivos, tornou-se desde sempre um marco na memorabilia musical de Campo Grande.

A convite da Urbem, Keberle voltou à Capital, em 2024, para ensaios, gravações e um concerto, além de uma concorrida masterclass no Sesc Teatro Prosa, que deram ainda mais fornalha para o diálogo musical entre a banda e o trombonista. Amanhã, uma vez mais por iniciativa da banda campo-grandense, eles voltam a se encontrar em grande estilo, no palco do Teatro do Mundo, para o show “Urbem Convida Ryan Keberle”, que promete ser um dos pontos altos do calendário jazzy da cidade neste ano.

Os ingressos estão disponíveis pela plataforma Sympla – R$ 40 por pessoa –, e a apresentação está prevista para começar às 20h. Certamente, mais um capítulo da música instrumental de MS está para ser escrito nesse concerto, que vem sendo aguardado com bastante expectativa pelos fãs da Urbem e – sim, ele já tem iradores por aqui – do músico norte-americano.

REPERTÓRIO

“Neste show, vamos apresentar algumas músicas da Urbem, composições da carreira de Ryan Keberle e também clássicos da MPB e do samba, tudo com uma roupagem jazzística criada a partir dos nossos arranjos. Tanto a Urbem quanto o Ryan compartilham essa vertente de misturar influências diversas em um caldeirão sonoro guiado pelo jazz. E, claro, com muito espaço para a improvisação. Afinal, o Ryan é hoje um dos maiores solistas de trombone do jazz mundial”, anuncia o baterista Sandro Moreno.

O mestre das baquetas adianta que estão previstos alguns convidados especiais, como o saxofonista carioca Giovanni Oliveira, atualmente radicado em Campo Grande, “que já tocou com grandes nomes da música brasileira”. Outro convidado é o cantor e baixista Juninho MPB, do Jota Trio, “que vem desenvolvendo um trabalho interessante, unindo jazz e música brasileira”.

O repertório vai de Cartola a João Donato (1934-2023) e Chico Buarque (“Trocando em Miúdos”), ando por Milton Nascimento (“Vera Cruz”) e Ivan Lins (“Quadras de Roda”) e contemplando ainda standards do jazz e as autorais “Pluma”, de Sandro Moreno, e “Ancient Theory”, de Ryan Keberle.

“Ele é apaixonado pela música brasileira e, com seu histórico tocando nas maiores orquestras de jazz do mundo [como a de Maria Schneider], traz uma estética jazzística única aos clássicos da MPB, algo que nos encanta como músicos”, afirma Moreno.

ÁLBUM

“Vai ser um show muito divertido para a gente”, anima-se o batera da Urbem. A banda gravou um álbum na Itália, em abril de 2016, “Living Room”, e voltou ao país, em julho de 2017, para se apresentar no Festival de Jazz de Fara, ainda com o guitarrista Gabriel de Andrade na formação, antes do ingresso de Ana Ferreira.

“Depois da apresentação no Teatro do Mundo, seguiremos para as gravações de um álbum em conjunto, um projeto nosso que ainda não podemos divulgar por completo, mas que, sem dúvida, será algo muito especial”, garante Moreno.

ENTREVISTA

A partir da esquerda, Ana Ferreira, Bianca Bacha, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro MorenoFoto: Divulgação/Thadeu Lenza

“Meu amor pela MPB é incrivelmente profundo” - Ryan Keberle

Por que vir a Campo Grande pela terceira vez?

Estou sempre em busca de oportunidades de fazer música com brasileiros, especialmente no Brasil, para plateias brasileiras, por causa do amor e da iração pela MPB e por meus heróis da música brasileira. O público daí me motiva a apresentar nossas versões desse repertório tão especial e gratificante.

Estou de volta a Campo Grande desta vez não apenas para o show desta sexta-feira, mas também para gravar um álbum bem bacana com a Urbem, sobre o qual ainda não podemos falar muito. Voltarei ao Brasil no fim deste mês para tocar no Rio, Belo Horizonte, São Paulo e Campinas, para marcar o lançamento do próximo álbum do Collectiv do Brasil, “Choro das Águas”, um tributo a Ivan Lins por seu aniversário de 80 anos. Ivan e eu temos, por coincidência, a mesma data de nascimento, 16 de junho.

O que vocês preparam para o show no Teatro do Mundo?

Gastei muito tempo com o pessoal da Urbem discutindo o repertório do show, que será reflexo dos vários estilos que gostamos de ouvir e tocar, incluindo sucessos da MPB, composições originais, tanto minhas quanto do grupo, e alguns clássicos do jazz.

Milton Nascimento, Edu Lobo e Ivan Lins têm sido destaques em seu songbook pessoal da música brasileira. E o Sandro comentou sobre possíveis composições de Cartola, Chico Buarque e João Donato que podem fazer parte do repertório. O que mais diria dessa sua forte ligação com esses nomes?

Meu amor pelo songbook da MPB é incrivelmente profundo e me conecto a tudo relacionado a essa música, inclusive às melodias mais fáceis de inspiração folclórica, às harmonias sofisticadas de pegada jazzística, aos grooves e ritmos contagiantes e à poesia das letras. Quando reinvento essa música, tento honrar o brilho dos originais, mas também interpreto a partir do que sinto e do meu background como um músico de jazz.

E a quanto à Urbem? O que o aproxima da banda?

Eles e eu temos tanto em comum do ponto de vista musical e pessoal. Musicalmente, amamos tanto a música popular quanto a música folclórica brasileira e somos estudantes dessas vertentes, mas somos, do mesmo modo, atraídos pela tradição do jazz e pelas improvisações solo que são o coração do jazz. Então, estamos tentando misturar esses gostos de um jeito parecido.

Você disse para a revista Downbeat, meses atrás, que, para ser um compositor de jazz, não basta só escrever as composições propriamente, mas também e até mais aproveitar as bandas, projetos e parceiros no seu processo criativo de compor. Poderia comentar sobre isso?

Se um compositor não pensa sobre como a sua música será interpretada por músicos de jazz, tanto por alguém que improvisa o solo quanto por uma seção rítmica de acompanhamento, então, esse cara, na minha opinião, não é um compositor de jazz. Todos os grandes compositores de jazz, os do ado e os contemporâneos, fizeram dessa preocupação uma das suas prioridades, incluindo Duke Ellington, Charles Mingus, Gerry Mulligan, Gil Evans e Maria Schneider.

Ao falar sobre “Bright Moments” (primeiro álbum do Ryan Keberle’s Octet), você fez menção à iração por Gil Evans (1912-1988; arranjador canadense que redefiniu o jazz graças ao trabalho com Miles Davis e outras incursões). Quais seriam as maiores contribuições e dons que ele tem em sua opinião?

Gil é o maior arranjador e orquestrador da história do jazz. Sua atenção aos detalhes o faria levar semanas ou mesmo meses para fazer um arranjo, porque ele era tão meticuloso. E isso, combinado ao seu profundo conhecimento da tradição do jazz e à sua fluência na linguagem jazzística, torna a sua música incrivelmente desafiadora e, ainda assim muito, agradável de se tocar, como também de se ouvir.

O que o Ryan trombonista diria para o Ryan pianista?

[Risos] É uma boa pergunta. Eu diria para ele parar por um instante e ouvir a própria voz musical interior e inspiração.

SERVIÇO

“Urbem Convida Ryan Keberle”
Amanhã, no Teatro do Mundo, às 20h,
na Rua Barão de Melgaço, nº 177, Centro.
Ingressos: R$ 40, no link sympla.com.br/evento/urbem-convida-ryan-keberle/2963774
Informações: 67 99696-9774.

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).