Na tentativa de alertar o governo federal sobre a urgência de medidas para preservar a indústria nacional de produção de aço, ao menos 18 siderúrgicas de Sete Lagos e região, em Minas Gerais, e duas unidades da Vetorial, em Mato Grosso do Sul, em Ribas do Rio Pardo e Corumbá, irão paralisar suas atividades por 12 horas nesta terça-feira (3).
A decisão vem em razão da falta de uma política de incentivo do governo brasileiro à cadeia de produção de aço, sufocada pela importação massiva do produto, o que provoca prejuízos ao setor, em especial, à indústria de produção do ferro-gusa, principal insumo para a produção de aço.
A paralisação deve ocorrer das 6h às 18h e, de acordo com William Reis, diretor de uma das siderúrgicas que integram o movimento, cerca de 2,5 mil toneladas de ferro-gusa deixará de ser produzido, o que equivale a R$ 5 milhões.
“A principal intenção do movimento é mostrar a dificuldade que o setor vem ando, com preços abaixo do custo, pouco financiamento e pouco incentivo fiscal. A paralisação de 12 horas demonstra que o setor está se unindo”, afirma Reis.
Segundo ele, caso não haja uma mudança de cenário no mercado, é possível haver demissões no curto prazo.
“A partir do mês que vem haverá problema muito sério em relação às demissões, pois na próxima etapa [do movimento] talvez comecemos a discutir sobre quantos dias de produção reduziremos”, diz.
Só em Sete Lagoas, ele estima que haja 5.000 pessoas empregadas diretamente na siderurgia. Em Mato Grosso do Sul, nas duas unidades da Vetorial, são cerca de 500 empregos diretos, além dos indiretos, principalmente na área de florestas.
O movimento ocorre em um momento de excessiva oferta de aço no mercado interno onde, em 2022 o aumento da entrada de aço importado no Brasil, especialmente o chinês pressiona a siderurgia nacional.
Por receber subsídios do governo asiático, o aço da China derruba os valores do mercado brasileiro, sendo apontado como um dos principais vilões da siderurgia no país.
De janeiro a abril deste ano, de acordo com o Instituto Aço Brasil, representante das siderúrgicas brasileiras, as importações de aço aumentaram 27,5% em comparação ao mesmo período em 2024
Na última semana, o governo federal renovou uma medida que impõe um limite de importação. Após atingir esse limite, as empresas estrangeiras devem pagar tarifas mais altas. Porém, a medida foi considerada ineficiente pelo setor nacional.
Além das dificuldades pelas importações, o mercado brasileiro também sofre mudanças nas exportações. No último fim de semana, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que dobrará a taxa de importação de aço no país, que ará para até 50% ainda em junho.
Reis pondera que a medida de Trump pode favorecer as exportações do mercado de ferro-gusa, mas, por outro lado, prejudicar o mercado nacional de aço.
"Acredito que se essas taxas realmente se mantiverem, visto que o presidente Donald Trump está mudando suas decisões todos os dias, o preço do gusa poderá melhorar, devido ao fortalecimento da indústria americana. Mas para o mercado interno, pode ocorrer maior entrada de produtos acabados, competindo com nossas aciarias", concluiu.