As máquinas agrícolas são investimentos altos e essenciais para o sucesso da produção rural. Quando uma colheitadeira, trator ou outro equipamento apresenta defeito de fábrica, o prejuízo para o produtor pode ser imenso — muitas vezes ultraando o valor da própria máquina, especialmente se o problema ocorre em plena safra. Mas o que fazer nessas situações?
Este artigo foi desenvolvido para orientar o produtor rural sobre seus direitos como consumidor, os caminhos legais possíveis, como reunir provas técnicas para um eventual processo judicial, quais os cuidados devem ser tomados antes de entrar com uma ação e quais os riscos envolvidos.
Os Direitos do Produtor Rural em Caso de Defeito de Fábrica
O Código de Defesa do Consumidor (CDC) também se aplica à compra de máquinas agrícolas novas ou usadas, desde que adquiridas de empresas (fabricantes, revendas ou concessionárias). Em caso de defeito de fabricação, o produtor tem direito à:
• Substituição do produto ou
• Reparo gratuito dentro da garantia ou
• Restituição do valor pago, além de eventuais perdas e danos.
O prazo para reclamar de vícios aparentes (defeitos visíveis) é de 90 dias a partir da entrega. Para vícios ocultos (que surgem com o uso), esse prazo começa a contar após a constatação do problema.
Como Reunir Provas para Um Processo Judicial
Uma ação judicial exige provas bem organizadas e técnicas. O ideal é que o produtor:
1. Documente o problema com fotos e vídeos da máquina em funcionamento ou parada apresentando os defeitos reclamados;
2. Reúna notas fiscais, ordens de serviço e relatórios de assistência técnica;
3. Solicite um laudo técnico elaborado por engenheiro mecânico, atestando que o defeito é de fabricação;
4. Guarde todas as trocas de mensagens com a fabricante ou revenda;
5. Testemunhas podem ser úteis numa eventual ação judicial;
6. Caso tenha causado prejuízo à colheita, documente o impacto econômico com comparações de produtividade e perdas financeiras, laudo contábil etc.
Esse laudo técnico é um dos elementos mais importantes do processo, pois serve como prova pericial preliminar e fortalece muito a argumentação jurídica.
Danos Materiais e Morais: Quando São Cabíveis?
Em casos graves, o produtor rural pode pleitear não apenas o valor da máquina, mas também:
• Danos materiais indiretos, como prejuízos com a perda da safra, aluguel de máquinas substitutas ou atraso na entrega de contratos;
• Danos morais, especialmente se houver abalo à reputação, estresse excessivo ou desvalorização do negócio. Por exemplo, no caso de um prestador de serviços de colheita de soja que rescinde um contrato porque sua colheitadeira apresentou problemas e precisou realizar um reparo justamente na época do colhimento.
É importante lembrar que os tribunais analisam caso a caso, por isso o apoio de um advogado especializado é fundamental.
Riscos da Ação Judicial e Importância do Apoio Jurídico
Apesar de ter respaldo legal, um processo judicial não é isento de riscos. O produtor pode enfrentar:
• Demora na tramitação do processo (anos);
• Custos com perícias, honorários e deslocamentos;
• Possibilidade de decisão desfavorável, mesmo com provas robustas.
Além da demora do processo judicial, uma decisão desfavorável pode aumentar ainda mais o prejuízo do produtor rural, pois além do prejuízo da máquina agrícola em si, ele ainda terá que ar as custas processuais, bem como honorários sucumbenciais do advogado da fabricante da máquina, cujo valor será fixado entre 10% e 20% do valor da causa. Como há diversas máquinas que ultraam a casa do milhão, esses honorários podem facilmente chegar na casa de centenas de milhares de reais.
Por isso, antes de entrar com uma ação, é altamente recomendável consultar um advogado especializado em Direito do Consumidor ou Direito Agrário, que possa avaliar a viabilidade do caso, a estratégia e principalmente os riscos envolvidos.
Máquinas agrícolas com defeitos de fábrica podem causar graves prejuízos ao produtor rural. Felizmente, a legislação brasileira oferece mecanismos de defesa, desde que os direitos sejam conhecidos e bem exercidos.
O segredo está na organização das provas, contratação de um perito competente e, sobretudo, no acompanhamento jurídico qualificado. Com essas medidas, o produtor tem mais segurança para buscar a reparação de seus prejuízos.
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