Na tarde do dia 22, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou um pacote de mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que deixará o crédito mais caro para pessoas jurídicas a partir do dia 1º de julho. As medidas afetariam operações internacionais. Obviamente, o mercado reagiu, e em poucas horas o ministro cedeu à pressão, tendo de vir a público anunciar um recuo. Foi assim que Haddad, desmoralizado, protagonizou um dos episódios mais vexatórios da política econômica do atual governo.
Quando era governador de São Paulo, o atual vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, gostava de dizer que “não tem compromisso com o erro” e que “não se faz política olhando para o retrovisor”. Mas há erros e erros. Algumas falhas respigam sobre a credibilidade de quem as comete. O problema é quando elas afetam a imagem de terceiros.
Segundo noticiou a imprensa, Haddad foi pressionado pelo setor financeiro sob a alegação de que a medida tinha “problemas técnicos” e que poderia ser interpretada como “controle de capitais”.
Embora tenha recebido uma avalanche de críticas a respeito da falta de diálogo e entendimento sobre o comportamento do mercado, a verdade é que não foi esse o fator decisivo para a decisão de recuar no anúncio. O peso veio do Planalto.
Às vésperas de um ano eleitoral e com índices ruins de aprovação do governo, estava claro que o impacto negativo do pacote de Haddad poderia causar enorme desgaste político para o presidente Lula. Era preciso estancar o sangue rapidamente, e foi assim que o ministro precisou fazer o segundo anúncio ainda à noite. Não, ele não recebeu o benefício de esperar nem sequer até o dia seguinte.
O pacote com o aumento do IOF foi anunciado com o objetivo de ajudar o governo a fechar as contas do ano. Os pontos de recuo envolvem investimentos de pessoas físicas no exterior, que teriam a alíquota ampliada de 1,1% para 3,5%, e as transferências para aplicações de fundos nacionais no exterior, as quais não eram taxadas pelo IOF e que ariam a ter alíquota de 3,5%. Dessa forma, o que era para ser apoio virou crise.
E ainda há mais um aspecto importante a ser observado em todo esse imbróglio. Conforme informado pelo governo, as novas medidas valem apenas para empresas, mas na prática o reflexo sempre tem um efeito dominó. O empresariado não vai absorver o prejuízo, e no fim quem vai pagar essa conta é a classe trabalhadora. E Lula sabe disso.
Fica claro, portanto, que não se trata meramente de gestão da economia. Esse episódio nos ensina muito sobre estratégia política e eleitoral.