Quase todos os anos, autoridades estaduais e federais, ao lado de representantes do setor logístico, se reúnem para debater o futuro da infraestrutura no Brasil. Em MS, o ritual não tem sido diferente. Discutem-se concessões, novos modais, integração continental e grandes promessas. Porém, na prática, os resultados concretos quase sempre são adiados. Apenas agora, neste ano, é que começamos a ver algum desdobramento, com a licitação da MSVia (BR-163) e da chamada Rota da Celulose, que inclui as BRs 262 e 267 e a MS-040. Um avanço importante, mas ainda muito aquém das necessidades do Estado.
A maior esperança, sem dúvida, é a concretização da Rota Bioceânica. O projeto de integração logística com os países do Pacífico promete transformar o eixo comercial do Brasil, encurtando distâncias e custos rumo aos mercados asiáticos. Para isso, contudo, é indispensável que a ponte sobre o Rio Paraguai, em Porto Murtinho, seja concluída dentro do cronograma, acompanhada de toda a infraestrutura que uma ligação internacional exige: aduana, postos de fiscalização e segurança e o viário adequado. São tarefas complexas que exigem planejamento e, sobretudo, execução eficiente.
O problema é que a Rota Bioceânica não é novidade. A discussão sobre ela já ultraa uma década. Desde então, acumulamos seminários, apresentações, viagens técnicas e promessas. O que ainda não temos é a entrega completa de nenhuma etapa fundamental. A cada ano, a sensação de avanço parece mais ligada à retórica que à realidade. E o risco de transformar o projeto em mais um monumento à morosidade brasileira cresce à medida que o tempo a.
Ainda mais vergonhoso é o caso da Malha Oeste, ferrovia estratégica que liga o Estado ao interior
de São Paulo e ao litoral. Praticamente paralisada há mais de 10 anos, ela continua sob concessão da Rumo Logística – sem operar nem investir e sem nenhuma perspectiva séria de reativação. Enquanto isso, o tempo e o descaso corroem a infraestrutura existente. É estarrecedor que uma concessão tão mal gerida ainda seja considerada válida. Talvez seja um bom negócio para a empresa concessionária. Para o interesse público, é um escárnio.
Claro que é importante sonhar alto. O Brasil precisa pensar em projetos ambiciosos que o coloquem na rota do desenvolvimento logístico global. Mas é igualmente necessário manter os pés no chão. Nenhuma grande obra sai do papel sem financiamento público. A lógica de esperar que o setor privado banque tudo é uma ilusão perigosa. Nem mesmo os países mais desenvolvidos, como os da Europa ou os EUA, dispensam o investimento estatal em infraestrutura. A China, símbolo máximo de modernização logística atual, investe bilhões de dinheiro público em suas obras.
O que nos falta, portanto, não é projeto, mas sim prioridade. É lamentável que, enquanto há gargalos estruturais evidentes, o Brasil continue pulverizando bilhões de reais em emendas parlamentares para ações paroquiais. Compra de tratores, construção de galpões e obras pequenas e desconectadas entre si seguem recebendo os recursos que deveriam estar financiando rodovias, ferrovias, portos e pontes internacionais. Em nome de uma política míope e fragmentada, seguimos abrindo mão de oportunidades estratégicas para o País.